ATA DA QÜINQUAGÉSIMA TERCEIRA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEXTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA NONA LEGISLATURA, EM 06.06.1988.

 

 

Aos seis dias do mês de junho do ano de mil novecentos e oitenta e oito reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Qüinquagésima Terceira Sessão Ordinária da Sexta Sessão Legislativa Ordinária da Nona Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adão Eliseu, Antonio Hohlfeldt, Aranha Filho,  Artur Zanella, Bernadete Vidal, Brochado da Rocha, Caio Lustosa, Cleom Guatimozim, Elói Guimarães, Ennio Terra, Flávio Coulon, Frederico Barbosa, Gladis Mantelli, Hermes Dutra, Ignácio Neis, Jaques Machado, Jorge Goularte, Jussara Cony, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Mano José, Nei Lima, Nereu D’Ávila, Nilton Comin, Rafael Santos, Raul Casa, Teresinha Irigaray, Valdir Fraga, Werner Becker, Wilton Araújo e Marcinho Medeiros. Constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e solicitou ao Ver. Rafael Santos que procedesse à leitura de trecho da Bíblia. A seguir, a Srª Secretária procedeu à leitura da Ata da Qüinquagésima Segunda Sessão Ordinária, que foi aprovada. Do EXPEDIENTE constou Ofício nº 214/88, do Gabinete do Governador. A seguir, foi aprovado Requerimento verbal do Ver. Raul Casa, solicitando que, após as manifestações das Lideranças desta Casa sobre o falecimento do Dep. José Antônio Daudt, seja a presente Sessão suspensa e convocada uma Sessão Extraordinária, amanhã, para correr a Pauta prevista na Sessão de hoje. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Raul Casa falou de sua consternação pelo assassinato do Dep. José Antônio Daudt, dizendo que ele foi um marco no jornalismo televisado desta Cidade. Comentou a postura de S. Exa. frente à vida, dizendo ter sido ele um inconformista, um defensor de seus ideais. O Ver. Jorge Goularte discorreu sobre a vida profissional do Sr. José Antônio Daudt, destacando ser ele o iniciador, através da TVE, dos programas no horário das sete horas da manhã. Salientado a importância de S. Exa. como homem público, comentou a necessidade de sérias reflexões sobre a falta de segurança em que vivemos. A Verª Jussara Cony comentou a perda que a morte do Dep. José Antônio Daudt representa para esta Cidade, discorrendo sobre a cruzada histórica em que ele se lançou em defesa da ecologia do nosso Estado, a qual culminou com a proibição do uso de aerossóis que contenham substâncias nocivas à camada de ozônio que envolve nosso planeta. O Ver. Cleom Guatimozim falou sobre o trabalho do Dep. José Antônio Daudt, jornalista conhecido não só em nosso Estado mas em todo o País. Teceu comentários sobre seu programa de televisão, onde este denunciava as arbitrariedades cometidas pelo poder público. Disse que Porto Alegre perde um jornalista e político atuante, que vinha cumprindo um programa repleto de atividades em prol do bem comum. O Ver. Flávio Coulon disse que a morte do Dep. José Antônio Daudt representa a perda de um amigo e de um companheiro de lutas, destacando que o PMDB deixa muito claro o seu compromisso de mobilizar seu efetivo no sentido de apurar os culpados por esse assassinato. Declarou que a Bancada do PMDB apresentará proposições em homenagem àquele Deputado. O Ver. Lauro Hagemann dissertou sobre a figura do Dep. José Antônio Daudt, como radialista e companheiro político. Falou que esta Casa ao homenagear S. Exa. o faz justamente, apoiando a suspensão dos trabalhos da presente Sessão como sinal de pesar por essa morte. O Ver. Hermes Dutra, questionando os motivos que levam uma pessoa a tirar a vida de seu semelhante, disse que o Dep. José Antônio Daudt foi um homem coerente, que lutou, trabalhou e falhou algumas vezes, como todo ser humano e que sua morte deixa um grande vazio e um grande temor, pelo reconhecimento de não sermos donos da própria vida. O Ver. Werner Becker incorporou-se às manifestações de pesar e perplexidade pela morte do Dep. José Antônio Daudt. Sugeriu, em nome do Ver. Aranha Filho, que esta Casa, na medida do possível, organize uma rústica denominada José Antônio Daudt, em homenagem ao amigo de Porto Alegre que foi S. Exa. E o Ver. Antonio Hohlfeldt comentou o assassinato do Deputado e Jornalista José Antônio Daudt, dizendo que, além do choque com este fato e da dor motivada pela perda, deverá ocorrer uma profunda reflexão sobre os acontecimentos relacionados a este episódio. Os trabalhos estiveram suspensos por um minuto, nos termos do art. 84, I do Regimento Interno. Às quinze horas e trinta e quatro minutos, em face do Requerimento do Ver. Raul Casa, o Sr. Presidente levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária a ser realizada amanhã, à hora regimental, e para a Sessão Extraordinária a ser realizada amanhã, às dezesseis horas. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Brochado da Rocha, Gladis Mantelli e Lauro Hagemann e secretariados pelos Vereadores Gladis Mantelli e Lauro Hagemann. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 

O SR. RAUL CASA (Requerimento): A Bancada do PFL gostaria de submeter a esta Casa um Requerimento, no sentido de que as Bancadas com assento nesta Casa se manifestassem e traduzissem a sua dor pelo infausto acontecimento que enlutou o Rio Grande do Sul e, em especial, Porto Alegre, com a morte do amigo de todos nós, Dep. José Antônio Daudt. Nossa Bancada tem consciência de que inúmeros projetos estão tramitando nesta Casa, cuja urgência é desnecessária destacar, face, inclusive, à proximidade do recesso parlamentar de julho. Por isso, submeto à Casa o Requerimento, no sentido de que, após a manifestação das Bancadas com assento nesta Casa, seja a Sessão de hoje suspensa, em luto pelo falecimento do Deputado, e que, concomitantemente, V. Exa. convoque para amanhã uma Sessão Extraordinária, para que os processos não sofram solução de continuidade, e que possam vir a ser votados, dentro dos prazos regimentais.

 

O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): A Mesa acolhe o seu Requerimento, salientando que amanhã não haverá Sessão Solene e, em vista disso, a Mesa determinará, imediatamente, caso o Plenário aprove, que após a Sessão Ordinária de amanhã haja uma Sessão Extraordinária com a Pauta de hoje.

 

O Sr. Flávio Coulon: E se não houver “quorum”?

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa não recebe, neste momento tão grave, apartes anti-regimentais, e pede que, por respeito, os Srs. Vereadores silenciem, senão, acabará a Sessão.

Estão suspensos os trabalhos.

 

(Suspende-se a Sessão às 14h34min.)

 

(Às 14h35min, o Sr. Brochado da Rocha assume a Presidência dos trabalhos.)

 

O SR. PRESIDENTE: Estão reabertos os trabalhos da presente Sessão. A Mesa informa aos Srs. Vereadores que está encaminhando um assunto que julga muito delicado. Vários dos senhores estiveram no enterro, ontem, do Dep. José Antônio Daudt. Entre nós, é claro, há um sentimento de dor. A Mesa não quer ser autoritária, mas traduz uma emoção que, de resto, não é da Mesa e dos Srs. Vereadores, mas da cidade de Porto Alegre. Quero assegurar aos Srs. Vereadores a plena consecução dos trabalhos, garantindo que, amanhã, haverá uma Sessão Extraordinária, mas quero, também, neste ato, assegurar a palavra às Bancadas, que poderão e deverão falar ainda no dia de hoje. A Mesa submete à apreciação do Plenário a Sessão Extraordinária de amanhã, sob a responsabilidade de todos, em homenagem ao falecido e, ao mesmo tempo, a palavra às Bancadas desta Casa, no dia de hoje.

 

A SRA. JUSSARA CONY (Questão de Ordem): Queremos endossar e apoiar a proposta do Ver. Raul Casa, Líder do PFL, complementada, no nosso entendimento com muito acerto, por V. Exa.: suspensão dos trabalhos de hoje, em memória ao Deputado, jornalista e homem público José Antônio Daudt, e realização da Sessão, na medida em que a Mesa encaminha.

 

O SR. CLEOM GUATIMOZIM (Questão de Ordem): A Bancada do PDT dá apoio total ao Requerimento do Ver. Líder do PFL e votará favoravelmente à suspensão dos trabalhos.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa resguardará tempo de Liderança, a ser designado pelas Bancadas, para falarem após a votação, pois acha mais próprio que as Bancadas possam falar e os Senhores Líderes designarão seus membros.

 

O SR. JORGE GOULARTE (Questão de Ordem): Eu acompanho a manifestação do nobre Ver. Raul Casa e da Mesa, coisa que já tinha até sido combinada, ontem, no velório do ilustre Deputado. Estamos solidários com essa manifestação.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa submete à votação o Requerimento feito.

Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

A Mesa abre tempo às Lideranças, para ocuparem a tribuna por cinco minutos. Com a palavra, pela ordem, os Vereadores Raul Casa e Jorge Goularte.

 

O SR. RAUL CASA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, não é fácil para quem começou a sua vida profissional junto com José Antônio Daudt, não é fácil para quem pediu a ele que fosse padrinho de crisma de seu filho, vir para esta tribuna homenagear o homem público polêmico, de temperamento difícil, até irascível, quando se empenhava em uma causa. Conheci Daudt ainda como chefe do gabinete do então Secretário Municipal dos Transportes, Glênio Peres, e Glênio, quando levado para a RBS, levou o Daudt e, juntamente, este Vereador que lhes fala, e consolidou-se aí uma das amizades mais gratas, caras e fraternas de um grupo de funcionários e jornalistas da RBS. Por esses caminhos da vida, ora mais perto, ora mais longe, nem sempre tivemos a mesma proximidade com Daudt, a não ser através de uma longa e gratificante correspondência, que há menos de dois meses, por julgar que não me pertencia, devolvia a ele.

Quero dizer que Daudt é um marco nesta Cidade e por isto me animei, de consciência tranqüila, a propor a suspensão dos trabalhos no dia de hoje, com uma Sessão Extraordinária amanhã, para que os processos não sofressem solução de continuidade.

A consagração que Daudt está a merecer do povo rio-grandense é prova do seu acendrado amor à Justiça e à causa dos menos favorecidos.

Guardo comigo e guardarei só comigo muito das situações vivenciadas juntas, em que ora a solidariedade, ora santa ira, ora a revolta nos uniu. Daudt certamente marcou muito da minha personalidade e muito das coisas que convivemos juntos. Posso dizer, sem errar e sem fazer injustiça, que tive a honra de fazer com que Daudt, timidamente, sem que quisesse, empurrando-o mesmo, empunhasse o microfone para fazer um programa de televisão, o Programa Conversa Franca com o Prefeito, nos idos de 64, 65, e o programa Sexta-Feira 12, um marco, sem dúvida, no jornalismo televisivo da nossa Cidade. Que Deus guarde o Daudt com suas discussões, com seus inconformismos, com seu denodo. A história lhe fará justiça. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Palavra com o Ver. Jorge Goularte.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, lamentavelmente, este fim de semana ceifou uma vida digna, de um homem talentoso, trabalhador, independente, altivo e que não se curvava aos poderosos: José Antônio Daudt. E as pessoas esquecem, muitas vezes, o que ocorre, passado algum tempo, mas poucas pessoas irão se lembrar que José Antônio Daudt iniciou os programas matinais em televisão, ele foi quem iniciou os programas das sete horas da manhã, na Televisão Educativa, quando, por não ter equipamento, ele fazia o programa ao vivo, e para lá nos dirigíamos de madrugada, quando convidados, para participar do programa da TVE, na PUC, quando lá estava a TVE. E lá iniciou-se a fazer os programas das sete horas da manhã. Hoje temos vários jornais às sete horas da manhã, mas poucas pessoas sabem ou se lembram que foi iniciado pela TVE, sob o comando de José Antônio Daudt. Era um homem de raciocínio rápido, um jornalista admirável, que reconhecia quando errava e procurava acertar, mas como ser humano sempre se voltava para a verdade, e isso é muito importante. Nós que estamos pesarosos; nós, os seus amigos pessoais, estamos entristecidos com a morte trágica deste notável homem público, nós que temos falado tanto contra a insegurança que grassa em todas as capitais e também - por que não? - em Porto Alegre, onde as pessoas têm um medo tétrico de andar à rua, onde nós que temos filhos adolescentes ficamos acordados para ver a sua chegada, pelo medo que temos de que sejam assaltados, mais que isso, seqüestrados à porta de casa. A morte deste jornalista traz uma reflexão muito séria, e foi extremamente feliz seu amigo e meu amigo particular Hélio Wolfrid, num momento em que o seu corpo descia à sepultura, conclamando o povo gaúcho a se unir no sentido de procurar, senão uma solução, pelo menos minorar a insegurança total que estamos vivendo, com a qual estamos convivendo, porque, realmente, é lamentável, é triste se ver o que ocorre, não apenas em Porto Alegre, como ocorreu também há poucos meses em Santa Maria, com a morte do Luizinho de Grandi, também assassinado na porta da sua casa, ao chegar em casa com a família.

Por tudo isto, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, acho que esta Casa faz muito bem em prestar uma homenagem a um filho desta Cidade, que por ela tanto batalhou, que por ela deu muito de si e, repito, foi o precursor, José Antônio Daudt, dos programas matinais em todo o Brasil. Quando hoje se vê os jornais de televisão matinais, as pessoas podem se esquecer que foi José Antônio Daudt que começou esse programa na TVE, quando não existia esse horário de televisão. E eu lembro que muitas vezes o Ver. Elói Guimarães e eu íamos, de madrugada, na PUC, na TVE antiga, para participarmos do programa de José Antônio Daudt, iniciando os programas jornalísticos matinais. Por isso, o Partido Liberal, por meu intermédio, e este Vereador pessoalmente, desejam que José Antônio Daudt tenha um lugar de destaque na estância grande do céu, que possa, lá, continuar a comandar – porque acredito na continuidade da vida – o seu trabalho em prol dos mais humildes, em prol do social. E volto a dizer, cumprimento o seu amigo pessoal e nosso amigo particular, meu e do companheiro Isaac, Hélio Wolfrid, pelo magnífico pronunciamento que fez no enterro do Jornalista e Deputado José Antônio Daudt. É isso que nós devemos fazer, nos unirmos, para tentar diminuir a insegurança em que todos vivemos, a incerteza que temos se vamos chegar em casa vivos a cada dia que passa, nós, nossos familiares, as pessoas que nos são caras e todos os seres humanos iguais a nós, pois seríamos incapazes de desejar o mal a qualquer ser humano semelhante a nós. Portanto, que Deus o tenha, José Antônio Daudt, num lugar de destaque, porque tu mereceste, aqui na terra, esse lugar que conquistaste, tenho certeza, lá no céu. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, a Verª Jussara Cony.

 

A SRA. JUSSARA CONY: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ontem, no Parque Farroupilha, por volta das 9h30min-10h da manhã, nos encontrávamos, assim como o Ver. Caio Lustosa, com os companheiros do Movimento em Defesa dos Parques e da Cidade, exatamente no Dia Mundial do Meio Ambiente, quando muitos de nós tomamos ciência do assassinato de José Antônio Daudt. O sentimento que nos uniu ainda mais, naquele momento, nós que lá estávamos em defesa dos interesses maiores da cidade de Porto Alegre, em defesa da qualidade de vida do povo de Porto Alegre, o sentimento que nos uniu, ainda mais, nesse Dia Mundial do Meio Ambiente, foi o da perda irreparável de quem dia a dia mais se comprometia nessa luta da preservação, da qualidade de vida do nosso povo. E aí, muitos de nós começamos a recordar alguns momentos e algumas passagens com o cidadão, com o jornalista, com o Deputado e com o democrata José Antônio Daudt. Relembrávamos, por exemplo, nos idos da década de 70, 78, 79, quando presidíamos a Associação dos Farmacêuticos Químicos do Rio Grande do Sul e que levávamos - até de uma forma isolada, porque vivíamos anos difíceis da Ditadura Militar - a luta em defesa da saúde, em defesa da qualidade de vida e contra as multinacionais dos medicamentos. Lembrávamos, então, que talvez a única das possibilidades em muitos momentos, naqueles graves momentos, que tínhamos em levar adiante a luta da categoria farmacêutica, o espaço que tínhamos sem destemor nenhum por parte daquele que nos entrevistava, cabia exatamente ao Jornalista José Antônio Daudt, pela coerência, pela postura, pelo compromisso com a democracia, com a liberdade, com os direitos de cidadania do nosso povo. O Ver. Caio Lustosa lembrava outras passagens, as várias entidades do Movimento em Defesa dos Parques e da Cidade que lá estavam também citavam outros momentos do Daudt cidadão, do Daudt jornalista, do Daudt Deputado, onde exatamente aquelas entidades, assim como nós e o Ver. Caio Lustosa e tantos outros, estivemos juntos numa cruzada histórica, não apenas pelo Rio Grande do Sul, não apenas pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, mas entendemos como um exemplo para todo o País, como um exemplo, o aprovado há menos de duas semanas, por unanimidade, pela Assembléia Legislativa, o projeto de José Antonio Daudt, que, por certo, vem em benefício da qualidade de vida do povo, não apenas da nossa Cidade, mas desta Nação inteira.

E foi, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, relembrando a coerência, relembrando a postura, relembrando os compromissos, que todos nós lá presentes constatamos a perda irreparável do cidadão, do jornalista comprometido com a verdade e que dignificou a sua profissão, e do Deputado, também comprometido com esta verdade, e que, sem dúvida nenhuma, dignificou a Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul.

Não há dúvida de que fará falta, num momento grave que atravessa esta Nação e em que tanto precisamos daqueles que detém o mandato parlamentar, da coerência, do compromisso e do exemplo que José Antonio Daudt, o cidadão, o jornalista, o Deputado, o democrata, deu a todos nós.

Fará falta, tenho certeza, mas não há duvida de que aqueles comprometidos com o que ele foi por certo terão pela frente, em qualquer momento da sua atuação, uma lembrança deste ou daquele episódio de quem deu exemplos que dignificaram a história do jornalismo, a história dos cidadãos e a história de um mandato parlamentar, como José Antônio Daudt. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Cleom Guatimozim.

 

O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a Bancada do PDT, através dos seus 13 integrantes, deseja manifestar seu profundo pesar pelo acontecimento, ressaltando, em especial, as qualidades do Deputado e do radialista José Antônio Daudt, o radialista e Deputado conhecido não só no Estado do Rio Grande do Sul, mas também fora dele, através da sua atuação como radialista, como jornalista, inclusive no Jornal do Comércio e no Jornal Zero Hora, pelos assuntos que abordava, polêmicos, das denúncias que fazia, da liberdade que tinha em trazer muitas vezes ao conhecimento de um administrador fatos que o próprio administrador desconhecia. Um trabalho verdadeiro de imprensa e de fiscalização.

Este trabalho de imprensa, este trabalho de fiscalização, principalmente do serviço público, foram, exatamente, que levaram José Antônio Daudt a conquistar o mandato de Deputado, pela imagem que criou em torno de si de fiscalização permanente.

Nós conhecemos José Antônio Daudt, inicialmente, como chefe da programação do Canal 12. E trabalhamos sob suas ordens, já que ele era Diretor de Programação, seis anos. Ali tomamos conhecimento da sua competência profissional, e, como diretor de uma empresa de televisão, durante os seis anos em que foi diretor, não comparecia diante das câmeras, apenas administrava toda a emissora de televisão com perícia, com capacidade, sempre demonstrando experiência. Ao afastar-se do cargo de diretor, foi quando José Antônio Daudt veio para a frente das câmeras, para os artigos nas colunas dos jornais, denunciando aquelas arbitrariedades que ocorrem no Poder Público, os abusos que ocorrem no Poder Público. Muitas vezes, é bom que se diga, José Antônio Daudt enganou-se, mas foi induzido a engano, foi levado a isso, e teve sempre a nobreza de reconhecer os seus erros e, em programa imediatamente posterior, dizer que se havia enganado, desfazendo a notícia dada. Inúmeras vezes, nós tivemos a oportunidade de trabalhar com José Antônio Daudt. O seu trabalho como Deputado, que o Rio Grande perde, era um trabalho feito com carinho e como resultado de toda uma observação que ele havia feito, como radialista e até como repórter. Então, o Rio Grande perde um Deputado que vinha se destacando, de grande importância e com grande experiência. E a imprensa perde um integrante atuante, que se destacava em diversas áreas da nossa imprensa. Nós achamos que é indeclinável o dever que todos nós temos de honrar aqueles que, por seus atos, por suas atitudes, demonstrando capacidade, fazem algo em favor do bem público. E José Antônio Daudt estava, exatamente, desempenhando esse papel. Eleito no último pleito, com 21 mil votos, ele vinha cumprindo um intenso programa de atividades, que o levariam, na certa, a outros escalões da nossa política nacional. Assim fica registrado o pesar da Bancada do PDT, pelo desaparecimento do Deputado e do radialista. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Flávio Coulon.

 

O SR. FLÁVIO COULON: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, sem dúvida nenhuma, em termos políticos, ninguém perdeu mais do que o Partido do Movimento Democrático Brasileiro com esse infausto acontecimento, que enluta o nosso Partido, enluta a classe política, enluta o Estado do Rio Grande do Sul e, de modo especial, enluta a classe dos jornalistas. Sem dúvida alguma, o Dep. José Antônio Daudt era um nome que se situava acima do próprio PMDB. Basta ver que, nas últimas eleições, ele foi cortejado por diversos partidos e optou – por uma questão de amizade pelo Governador Pedro Simon – em acompanhar o nosso Partido nesta trajetória em busca da democracia plena em nosso País. Perdemos um grande companheiro. Perdemos, em nível pessoal, um amigo de todos os fins de semana, no Parcão, alegrando, com sua inteligência, com sua simpatia, com seu sorriso sempre presente, com a sua alegria de viver, os amigos que se congregavam em torno dele, ao longo da manhã e ao longo de uma boa parte da tarde, lá no Parque Moinhos de Vento. O PMDB se sente na obrigação, também, neste momento de dor, de deixar muito claro que o Governo do Estado tem um compromisso com a sociedade rio-grandense e brasileira, porque o nome de Daudt era, sem dúvida nenhuma, um nome nacional. Na semana passada, a revista de maior circulação nacional, a Revista Veja, concedia uma página inteira ao Dep. José Antônio Daudt, com um projeto de alcance nacional, pela simbologia, pelo espírito do projeto. O PMDB reafirma que irá mobilizar todos os seus efetivos, no sentido de apurar o nome, ou os nomes dos criminosos, lamentando que, sem que a polícia houvesse se manifestado, a Secretaria de Segurança tivesse chegado à elucidação deste crime, nomes estejam sendo lançados à opinião pública, sem que haja a confirmação de que esses nomes estejam realmente envolvidos, ou sejam os efetivos responsáveis por este hediondo crime. A Bancada do PMDB apresentará a este Plenário duas sugestões em homenagem ao Dep. José Antônio Daudt. A Bancada trará uma idéia do Ver. Caio Lustosa, que será apresentada brevemente a este Plenário, de um Projeto criando o Prêmio Anual de Ecologia, que levará o nome do Dep. José Antônio Daudt, pelos serviços prestados nesta área, um prêmio anual, em caráter municipal, a ser outorgado pela Câmara, para a melhor monografia ou estudo sobre o assunto ecologia; a Bancada também encaminhará, brevemente, a idéia deste Vereador, no sentido de que aquele Largo que existe no Parcão, e que durante tanto tempo abrigou a simpatia, a inteligência e a presença do Dep. José Antônio Daudt, seja consagrado como Largo Dep. José Antônio Daudt, e temos certeza de que, entre seus amigos, ergueremos a imagem do Daudt, que ficará participando daquela roda de seus amigos eternamente. Era isso que gostaria de colocar neste momento de dor e comoção. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, Ver. Lauro Hagemann.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, em meu nome pessoal, em nome da Bancada do PCB, rendo a minha homenagem à memória de José Antônio Daudt. Conheci Daudt há muitos anos, como companheiro radialista, e é, sobretudo, nesta profissão que ele se destacou.

Daudt pertence a um pequeno número de jornalistas, radialistas, que fizeram da política o prolongamento natural da sua atividade profissional. E como poucos ele soube dignificar também na cena política as excelências que fizeram de seu nome um dos nomes mais prestigiados da radiofonia e do jornalismo nesta Capital e neste Estado. É preciso que, nesta hora, deixemos de lado todas as implicações, todas as questões menores que possam ser suscitadas em torno do que de tão grave aconteceu, para nos fixarmos naquela figura humana que todos nós aprendemos a respeitar e com a qual convivemos. Duvido que haja, nesta Casa, um Vereador que não tenha participado de um programa em que o Daudt era o condutor. E todas as vezes fomos respeitados, bem tratados, como ele se fazia respeitar.

Por isso, quando esta Casa presta esta singela homenagem, não faz mais do que homenagear uma figura querida de todos nós. Uma figura necessária à vida da Cidade e, certamente, vai ser substituída, mas que, num primeiro momento, deixa um impacto muito negativo, muito desfavorável, e que vai custar a ser substituída. Esta Casa, que tem homenageado tantas figuras, nenhuma menor do que Antônio Daudt, mas certamente nenhuma maior do que José Antônio Daudt.

Por isso, nos somamos ao Requerimento do nobre Ver. Raul Casa, pedindo que após os pronunciamentos das Lideranças nesta Casa a Sessão seja suspensa. É o mínimo de homenagem que se pode prestar a um homem que, no desempenho da sua atividade profissional, no desempenho da sua atividade política, soube granjear o respeito e a admiração de todos os rio-grandenses, independentemente de facções políticas. Tudo isso para, uma vez mais, reprisar o profundo respeito meu, pessoal, pelo meu Partido, pela figura do profissional, companheiro, jornalista, radialista, e também pelo companheiro político José Antônio Daudt. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A palavra com o Ver. Hermes Dutra.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, meu Partido, obviamente, vem se somar a esta modesta, singela homenagem que a Casa faz ao desaparecimento desse jornalista ilustre, Deputado Estadual, trabalhador, que foi José Antônio Daudt. Fico abstraindo a posição política e o cargo político que cada um tem e começo a viajar pelos caminhos insondáveis do destino, e as perguntas afloram com pontos de interrogação pesados, enormes, que nos caem nos ombros como uma carga muito difícil de ser carregada. Mas o que leva uma pessoa a tirar a vida de outra? Há aquele crime em que a pessoa mata para roubar. Há aquele crime em que a pessoa mata para se defender. Há vidas que se perdem numa guerra estúpida, que não foi declarada por aqueles que têm os seus corpos tombados pelos combates. Mas o que leva a vida de uma pessoa a se esfumaçar de uma hora para outra, a deixar seus amigos a pranteá-lo, seus eleitores com sentido de orfandade, seus companheiros políticos com um misto de saudade, de tristeza; seus familiares ao desespero pela dor. O que leva o ser humano a puxar o gatilho e liquidar com a vida sem ter motivo que possamos considerar, não justificar? Não há motivos que justifiquem a tirada de vida de alguém, mas há ocasiões que se explicam. Eu não fui ao enterro do Daudt ontem. Meditei profundamente pela parte da manhã – quando, através de telefonema de um amigo, tomei conhecimento da morte do Daudt – se deveria ir ou não ao enterro dele, e achei, do fundo do meu coração, que a melhor homenagem que se poderia fazer era não ir ao enterro. Não ir e ficar em casa refletindo junto com os meus familiares sobre essa impropriedade que temos sobre a nossa vida – nós políticos – nós que não somos donos das nossas vidas, agradamos a uns e desagradamos a outros e, às vezes, chega em nossa casa a notícia da nossa morte. O Daudt foi à expressão daquilo que se pode dizer – e quantas vezes divergi com veemência até mesmo – coerente. Eu lhe cobrava, ainda, num debate sobre o Projeto Praia do Guaíba, o seu apoio que tinha dado ao Plano Cruzado; com aquela sinceridade, em pleno ar, disse: “Vereador, eu me enganei, como todo o mundo se engana, o senhor nunca se enganou?”.

Foi um homem coerente; lutou, fez e falhou, certamente, muitas vezes, como todo o ser humano falha. Mas deixa em todos nós um sentimento de um grande vazio e quem sabe esse sentimento de grande vazio não seja na verdade um sentimento até mesmo de temor, porque, afinal de contas, a vida é o nosso bem maior, e nós sequer somos donos da nossa própria vida. Sabem os senhores, eu sou católico; ontem, na missa do fim da tarde, ainda conversava com o padre e incluímos o nome dele na missa, e nós questionávamos muito sobre isso: a impropriedade, isto é, não se ser dono da própria vida. E o que é pior ainda, depois que se morre, se costuma dizer que a pessoa é boa. Morreu, ficou bom. Essa é uma tradição brasileira. Mas, nem todos ficam bons no coração de todos. Eu tenho a impressão de que o Daudt conseguiu ser bom antes de morrer no coração de muita gente. Eu estou profundamente triste com isso, pois acho que essas coisas não deveriam acontecer. Mas, acontecem. Se foi um Deputado, se foi um radialista, se foi um amigo. E amanhã, será que esse dedo insaciável e esse cano não estarão apontados para um outro? Mas, é a nossa sina. Afinal de contas, tomar posições, só as toma quem tem coragem, e ele foi um homem corajoso. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Werner Becker, pela Bancada do PSB. V. Exa. tem cinco minutos.

 

O SR. WERNER BECKER: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, senhores funcionários da Casa, em especial, senhores jornalistas. Na minha pessoa e na pessoa do Partido Socialista Brasileiro queremos, também, incorporar o sentimento nosso ao sentimento desta Casa. Tive o privilégio de conhecer pessoalmente o Daudt, há muito tempo e, como radialista, ser seu colega. No momento em que a Casa se reúne para dizer o pranto que chora pelo Daudt, o Partido Socialista Brasileiro e o Ver. Werner Becker a ele se incorpora. E recebe, Ver. Aranha Filho, uma proposta, uma sugestão: temos homenageado várias e várias pessoas nesta Casa; sugiro que esta Casa opere, como for possível, dentro da nossa possibilidade legislativa, para que se realize nesta Cidade uma rústica, uma rústica pela Cidade, que se chamará José Antônio Daudt, para que as pessoas percorram e outras assistam, pela Cidade, a homenagem dessa Câmara de Vereadores, correndo pelas ruas, avenidas e paralelepípedos em homenagem àquele que foi, apenas e tão-somente, um amigo de Porto Alegre, um porto-alegrense. Sr. Presidente e Srs. Vereadores, não tenho as fórmulas, mas podemos dizer que esta Câmara estará solidária no momento em que nós celebrarmos pela Câmara de Vereadores, tenho certeza de que o Sr. Prefeito Municipal, nesse ano e no ano que vem, dará a acolhida para que celebremos por toda a Cidade uma rústica José Antônio Daudt, ao deputado, radialista, ao homem público que já era antes de ter o mandato legislativo. Estou dizendo descosidamente alguma coisa porque a emoção me impede de dizer de forma mais clara, que esta Câmara de Vereadores, tão ligada às coisas de Porto Alegre, esta Câmara de Vereadores há de encontrar a forma de que a memória de Daudt passeie tranqüilamente pelas ruas de Porto Alegre, porque na hora do choro, na hora da dor, as coisas têm que ser oferecidas de forma muito simples, como esta homenagem que o Ver. Martim Aranha agora me sugere, e da qual com muita satisfação sou portador.

Para encerrar, vou repetir o que todos já repetiram, nós estamos extremamente pesarosos, mas estamos extremamente perplexos com o fato de como é que as coisas acontecem desta forma. E se alguns ou se todos tiverem a sensibilidade para entender das coisas eu diria, neste momento, não há exigências, não há reclamações, não há nada, apenas um choro de carinho, e um pedido: para que, por um minuto, a gente pense, a gente recorde, que as coisas acontecem, é assim, e que não somos ninguém para saber mais - que estranhos destinos tem a fatalidade - para entender que as coisas comecem e terminem assim, como o Daudt muitas vezes perguntava.

O Partido Socialista Brasileiro e o Ver. Werner Becker se incorporam, neste momento, ao luto e à dor, pedindo que este momento seja, fundamentalmente, um momento de reflexão existencial, nada mais.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Pela ordem, com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, outro dia, neste Plenário, a propósito de um assunto bem diverso, questão do trânsito, nós comentávamos a sociedade brasileira e a violência existente no nosso meio, agora todos nos voltamos para um episódio mais próximo, mais definido, mais objetivo, mais chocante, inclusive, que é o assassinato do jornalista e, eventualmente, Dep. José Antônio Daudt. Se nos choca o episódio como tal, nos deve servir a situação toda criada para, mais uma vez, refletirmos sobre algumas coisas desta sociedade. Por exemplo, a leviandade com que se buscou culpados, desde as primeiras horas, criando-se situações difíceis para uma série de pessoas que ficarem direta ou indiretamente envolvidos nesta situação sem se saber, inclusive, se elas estão mesmo ou não. Em segundo lugar, a inoperância, a falta de resultados em se buscar realmente o resultado final, qual seja, a identificação do verdadeiro criminoso. Estamos já há mais de 48 horas do episódio e, literalmente, como dizia o Fernando Gabeira, agora, à tarde, dando uma entrevista para uma emissora de rádio, tirando as relações públicas da polícia, não se avançou um milímetro, em relação há 48 horas atrás, do episódio.

Quanto ao Daudt, em si, acho que todos os Vereadores que me antecederam já comentaram. Daudt foi um profissional acima de tudo e eu gostaria de destacá-lo como profissional. Um homem que era capaz de respeitar profundamente as idéias opostas. Tive a oportunidade de atuar com ele em alguns momentos, como jornalista; como Vereador ser por ele entrevistado em seu espaço. Era sempre com muita simpatia e com muito respeito que o Daudt nos recebia, mesmo quando, eventualmente, não concordasse com as nossas colocações.

Enquanto jornalista, José Antônio Daudt se destacou por uma coisa que é fundamental ao jornalismo: perguntar. Daudt sabia perguntar e não tinha medo de fazer a pergunta, uma coisa rara nos repórteres de hoje em dia. E, ao fazer a pergunta, evidentemente levava o seu entrevistado a ter de se colocar com clareza sobre as situações abordadas.

A perda de Daudt, sem dúvida nenhuma, deixa a Assembléia Legislativa um pouco mais pobre. E deixa, sobretudo, à vista, um certo teatro, uma certa representação que se faz a cada momento que morre uma pessoa pública, porque se lamentam aqueles que eram os seus verdadeiros amigos, mas se lamentam, também, pró-forma, aqueles que, às vezes, até, nem tão amigos assim se colocavam em relação ao passado, à pessoa de Daudt. Assisti alguns atos realmente lamentáveis de pessoas, que tinham posições opostas a ele, se colocarem agora com palavras emocionadas e louvarem a sua figura, quando, na verdade, se pudessem ter se livrado dele antes, ao menos politicamente e profissionalmente, o teriam feito com imenso agrado. Isso eu acho que também é uma forma de violência que se clarifica em episódios e momentos como este. Fiquei em dúvida, por exemplo, ao ouvir certos depoimentos, nestes dois últimos dias, exatamente porque eram depoimentos de pessoas que, claramente, não concordavam, não se aproximavam, combatiam, discordavam e, até, por vezes, agrediam verbalmente o Dep. Daudt. De qualquer maneira, é curioso observarmos que, a exemplo deste companheiro, deste político, deste Jornalista, diariamente, as páginas dos nossos jornais, das nossas rádios e da própria televisão, se ocupam de outros episódios semelhantes, tão estúpidos, tão violentos, tão gratuitos, quanto o que envolveu Daudt. Talvez com a diferença de que, no caso de Daudt, por ser uma figura de primeiro nível, todos nós chegamos aqui a este Plenário e a esta tribuna para nos manifestarmos, enquanto que, aqueles que são eliminados, no dia-a-dia, no cotidiano das nossas vilas, das nossas áreas periféricas, passam e morrem no anonimato, sem que se faça qualquer registro e sem que isto nos propicie uma reflexão mais profunda. A violência esta aí, realmente, e me parece que, no episódio de Daudt, tenha sido qual seja o móvel do crime, se é que houve e existiu, é lamentável, de qualquer maneira, que ele possa ter ocorrido. Fica, em todo o caso, com clareza qualificada, para aqueles que gostavam de dizer que a sociedade brasileira é uma sociedade calma, tranqüila, pacata, ao que parece nos aproximamos, muito rapidamente, de características de sociedades extremamente violentas, como é, por exemplo, a sociedade norte-americana. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Ouvidas as Lideranças da Casa, a Presidência da Casa dá por encerrados os trabalhos, registrando o infausto acontecimento e dando também notícia aos Senhores Vereadores de que a Casa mandou, ontem, uma coroa de flores ao enterro do Dep. José Antônio Daudt.

É com profunda dor que esta presidência, pelos seus laços de amizade e pelo reconhecimento público a José Antônio Daudt, pelo seu trabalho, presta a S. Exa., hoje, esta homenagem.

Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h34min.)

 

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